Realpolitik
OS SENTIMENTOS DE INDIGNAÇÃO,
INSATISFAÇÃO E, POR FIM, IMPOTÊNCIA ESTÃO FAZENDO COM QUE UMA PARCELA GRANDE
DAS PESSOAS SE DESINTERESSE PELA POLÍTICA
23 de Junho de 2012 às 12:21
Marta Suplicy
O modelo "realpolitik" se esgotou e parece que nem
todos estão percebendo. Não dá mais para viver essa praga que se entranhou no
sistema político brasileiro. Erva daninha que corrói valores, exclui a
participação, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética.
Nascida na Alemanha, à expressão "realpolitik",
segundo Luís Fernando Verissimo, é um termo invocado quando um acordo ou
arranjo político agride o bom-senso ou a moral.
Os cidadãos eleitores, que ainda se dão ao trabalho de
acompanhar a política, não suportam mais essa prática. Podem até entender a
necessidade das composições, alianças e acordos que se tornaram imprescindíveis
no Brasil muito em função do nosso sistema eleitoral, do número de partidos e
do quanto tornou-se precioso o tempo de TV.
Os que criticam essa modalidade e as formas de fazer política,
vistas como "normais" há décadas, têm hoje consciência de que elas
são um terrível mal que compromete a ação de governar. Mas quando, pela sua
simbologia, ferem os limites do bom-senso e têm a marca do estapafúrdio,
tornam-se incompreensíveis para a população e são por ela rechaçadas.
Encontram-se além dos limites da própria "realpolitik".
Os sentimentos de
indignação, insatisfação e, por fim, impotência estão fazendo com que uma
parcela grande das pessoas se desinteresse pela política. A maioria dos jovens
quer distância. E o povo, mais escolado, começa a achar "tudo igual",
o que acaba provocando o mesmo desinteresse.
A luta pela democracia no Brasil conseguiu eletrizar forças e
corações que não suportavam viver num país sob a ditadura. Cada um reagiu à sua
maneira. Mas muitos morreram e sofreram pela liberdade. Esse resgate da
democracia é tão importante que não poderia ter sido contaminado por práticas
seculares que nos acorrentam a uma malfadada forma de fazer política. Esta
mesma que aliena o povo que se vê --e se sente-- excluído e desrespeitado.
Mas nem tudo está perdido. Tem gente formulando, e outros
remoendo, novas práticas e métodos, buscando diferentes formas e canais de
interação social e política. Um novo modelo que contemple e dialogue com os
vários segmentos e forças heterogêneas da sociedade. Uma construção distante
dos métodos agonizantes e ultrapassados que ainda hoje vigoram. Uma transição
necessária, e imprescindível, que já passou da hora de acontecer.
Não está claro como, e em quanto tempo, se dará o nosso processo
de libertação da chamada "realpolitik". Mas, que esse sistema
político e eleitoral que vivemos chegou à exaustão, tenho clareza."
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