HOMENAGEM
A UM BRASILEIRO TRABALHADOR
Por Manoel Nazareno da Silva
(Não houve protocolo. Aquele homem aproximou-se,
sem cerimônia, chegando perto e mais perto do Presidente, com aqueles gritos
como se fosse amigo de infância... A equipe de segurança tentou isolar o
Presidente, mas Lula olhou pra eles, com um “Não” no olhar...)
-
Ei, seu Lula! Dadonde o sinhô é?
-
Sou do Nordeste, camarada.
-
Dadonde?
-
Sou nordestino como você, ômi. Sou de Garanhuns, Pernambuco...
-
Só podia! Vem cá, ômi! Me dê um abraço, ômi! O sinhô num sabe, mas lá em casa,
derna qui o sinhô foi elegido prisidente, a miséra foi simbora, ômi... Só num
vô dizê qui votei no sinhô, porque num minto pra ômi nenhum. Num deu tempo
aprendê a lê pra tirar o tito. Mas eu mandei recado pra todos meu parente que o
ômi pra se votar era o sinhô...
-
E tu acertou, ômi? ( os ói do nordestino, brasileiro, cidadão do mundo, que “não
cursou nenhuma faculdade - mas, quando presidente criou um bocado delas - mas
na vida se tornou doto”, ói de seu Lula marejaram...)
-
E não acertei? Ói, Seu Lula, aqui hoje nós já tem o qui cumê o mêis intêro...E
aqueles dois ali, tá veno? Meus netim, estão numa iscola... Aqui, antes do
sinhô, num tinha iscola, viu? E tem até este troço chamado parambóca! Quem
gosta é os minino...
(as
mãos calejadas e os braços “tirnados” do ômi do povo que esbarrou em “Seu Lula”
numa dessas andanças do nosso Brasil profundo, que aqui atende pelo emblemático
e singelo nome de Brasilino, apertam “Seu Lula” com um misto de ternura e
força...)
-
Ma discurpe, qui num sô ômi de chorá, não... É qui quando malembro dos minino, e
dos vizim, penso no sinhô. (Brasilino
falava e tentava esconder os olhos marejados...)
- ...
-
Ói, “Seu Lula”; apôis num é ingraçado? Eu ia muito vê seu Luís e sua sanfona
cantá por estas bandas... Malembro e segurava no peito o soluço quando ele cumeçava
aquela musca triste, da triste partida... Hoje, “Seu Lula”, a gente tá voltano;
voltano pro nosso Cariri. Pur causa do sinhô, viu...
(Lula
da Silva olhou para a sua equipe durante longos segundos. Ninguém se mexeu. Entreolharam-se
todos por um bom tempo...)
(Brasilino
abraçou um por um, todos os membros da equipe...)
-
Ói, minha gente, eu fiquei gostando muito de vocês (o encontro durou cerca de
20 minutos), mas o meu abraço maior vai pra ele...
(E
se dirigindo pra “Seu Lula”, abraçou-o como se abraço um filho... E falou
baixinho para o Presidente: “Dê uma abraço a dona Dirma, viu. Diga a ela qui a
luz tá boa qui tá danada. Os meu netim é qui gosta! Diga a ela qui o meu povo tá
cum ela, viu? E cum o sinhô..).
(Depois
do demorado abraço Brasilino, ajeitou a roupa, passou as costas da mão na face
calejada, apertou bem os olhos, olhou na direção de Seu Lula e foi se afastando
de costa, enquanto na sua cara nordestina o brilho era maior que o Sol... E
virou-se, caminhando confiante de volta pra sua casa...)
(Seu
Lula, numa palestra feita numa daquelas metrópoles do Velho Mundo disse para
uma platéia de autoridades mundiais – e então os olhos marejaram novamente –
que carrega o abraço de Brasilino pra toda parte).
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