domingo, 15 de janeiro de 2012

Sucessão na terra das salinas

Ah, mas estão verdes!
A raposa e as uvas ou como e porque não se quer admitir que haja uma Oposição à administração do atual gestor executivo na cidade de Macau

Faminta e sedenta, a raposa adentrou um parreiral, e imediatamente o instinto fez suas pupilas dilatarem-se, denunciando a sua fome.  E se apressou para chegar perto dos cachos apetitosos, dos bagos fresquinhos e suculentos que balançavam quase perto do seu alcance. Quase...

Solitária, sedenta, faminta, olhos esbugalhados ante o que via à sua frente, a pequena raposa, num impulso, deu um salto para alcançar o cacho de uvas; fracassou na primeira tentativa. Sua pequenina estatura talvez explique o fracasso... Olhou em volta, imaginando algo ou alguém que pudesse lhe "dar a mão", para que pudesse saciar suas insaciáveis sede e fome. Nada nem ninguém...

A pequena raposa olhava, misto de admiração e quase súplica, para os suculentos cachos de uva que pareciam estar tão perto (a raposa é um dos animais que tem a visão menos aguçada entre os canídeos, como se fosse míope). Tendo fracassado na primeira tentativa, achou que não poderia desistir, para que os outros animais não tomassem conhecimento do seu fracasso, e passasse ela a ser motivo de chacota no reino animal.

A fome e a sede do pequeno canídeo aumentavam; sentia já o anúncio em seu corpo a cada novo movimento que fazia, rondando o caule da videira. Mas não deixaria de tentar. E tentou mais umas cinco, seis, sete vezes. Fracassou em todas elas...

O sol estava já anunciando a sua retirada, embora uma nesga de luz ainda permitisse aos olhinhos miúdos do pequeno animal uma visão dos apetitosos cachos de uvas agora desfocados pela miopia natural e pela ausência de luz.

O instinto de sobrevivência, em todos os seres vivos, não permite que o organismo desista assim tão facilmente... E a pequena raposa tentou ainda mais, e mais, e mais. As infrutíferas tentativas começaram a esmorecer, e o instinto a apontar que deveria buscar outra coisa para saciar sua fome, sua insaciável fome... Deveria haver em algum lugar alguma coisa, ao menos para mitigar esta fome que não passa jamais...

A desistência estava já na ponta da língua da raposa... E ela viu que não tinha, pela sua pequena estatura, como alcanaçar o seu objetivo... Se ao menos o seu pai estivesse por perto, e também tivesse forças...

A luz estava desaparecendo, e agora aquelas suculentas uvas estavam ficando mais e mais distantes... Ante a total possibilidade de alcançá-las, a raposa, também por instinto, recolheu-se, afastando-se da videira, recuando de costas enquanto ainda mirava, sorrateira agora, como são todas as raposas, afastando-se...Tivera a ilusão de que lograria algum êxito...

Entretanto, ao bater em furtiva retirada, um barulho faz com que ela se voltasse, e corresse rapidamente em direção à videira... Imaginou ser um cacho que tivesse se desprendido...Era apenas um galho seco que havia caído.

E seu último pensamento, numa espécie de esgar, autocomiseração e - característica humana - despeita, falou: É, eu não queria mesmo estas uvas; estão verdes...

Um coelho, escondido em sua toca, bem perto da videira, ao ver a raposa se afastando, murmurou: aqueles que são incapazes de atingir uma meta tendem a depreciá-la, para diminuir o peso de seu insucesso.

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